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Os anos de 1914-1918 estão indubitavelmente associados à Primeira Guerra Mundial. Cem anos volvidos sobre estas datas, há que evocar os momentos vividos, as tensões sofridas, a devastação provocada, a destruição de cidades, os massacres que dizimaram milhões de seres humanos, condicionando e redirecionando toda a história universal.
Urge recordar para não repetir!
Assim, este projeto, para além de pretender ser um exercício de história com base em documentação arquivística, quer constituir-se como um alerta para os efeitos devastadores e egoístas da violência, para a escalada de atrocidades que se propagaram inflamadamente na Europa, envolvendo contingentes militares de todos os cantos do mundo.
A esta situação, acrescia ainda a subida vertiginosa do custo de vida, facto que se repercutia no acesso aos jornais. Desde o início da guerra o preço do papel quase que triplicara (de 83 réis para 2 tostões), o que, para além de encarecer o preço dos jornais e limitar a procura, punha igualmente a imprensa em risco, originado mesmo a interrupção da publicação de muitos periódicos. Outras publicações existiram que, sendo impressas, foram impedidas de circular.
Urge recordar para não repetir!
Assim, este projeto, para além de pretender ser um exercício de história com base em documentação arquivística, quer constituir-se como um alerta para os efeitos devastadores e egoístas da violência, para a escalada de atrocidades que se propagaram inflamadamente na Europa, envolvendo contingentes militares de todos os cantos do mundo.
Em termos formais, este projeto desenvolve-se a partir de uma rúbrica publicada no jornal diário O Comércio do Porto, chamada "Últimas Notícias”, entre 1914 e 1918, onde se dava conta, de forma sumária e concisa, dos mais recentes desenvolvimentos e acontecimentos da guerra que, gradualmente, assumia contornos mundiais.
Com base na digitalização e transcrição dessas "Últimas Notícias”, ao longo de cinco anos (1914-1918), foram recolhidas e trabalhadas em base de dados cerca de 1350 itens.
Cada item foi devidamente transcrito, ortograficamente atualizado e, em muitos casos, houve mesmo a necessidade de proceder à retificação/correção das designações toponímicas, sobretudo quando reportados a locais geograficamente longínquos, relativamente aos quais os jornalistas portugueses pouca ou nenhuma informação dispunham, facto que originou algumas imprecisões na informação prestada.
Apesar da primeira fotografia publicada neste periódico datar de 2 de fevereiro de 1907, a verdade é que a publicação desta tipologia foi extraordinariamente residual durante os anos seguintes, não obstante o recurso sistemático a gravuras e a desenhos, nomeadamente cartográficos no que concerne à questão da ilustração da guerra. Pese embora este facto, a verdade é que o recurso às imagens fotográficas era já naquela altura uma realidade em outros jornais nacionais (O Século, O Mundo, etc.), a par de muitos outros internacionais. Numa população maioritariamente analfabeta, a falta de imagens traduzia-se, naturalmente, numa limitação na abordagem e comunicação das notícias da guerra, que o recurso frequente à utilização de mapas dos principais focos bélicos, não supria satisfatoriamente.
Assim, este projeto propõe-se ilustrar fotograficamente à posteriori essa rúbrica diária, combinando imagens hoje disponíveis no infindável repositório web, com a informação prestada, procurando ir ao encontro da realidade vivida e apresentá-la como complemento informacional. Desta forma, tentou-se ensaiar um diário "vivo”, dando ao utilizador a possibilidade de acompanhar dia-a-dia, a uma distância de um século, o clima da Primeira Guerra Mundial, no pulsar ritmado do dia-a-dia das principais notícias devidamente ilustradas.
No entanto, não pode ser descurado um facto essencial que pesa sobre o jornalismo nesta altura, não só em Portugal, como nos países envolvidos no conflito: a censura. A censura limita a informação e, em extremo, deforma a realidade por omissão de factos contundentes considerados desajustados ao conhecimento público. A primeira restrição surgiu a 30 de novembro de 1914, num decreto que proibiu a publicação de notícias relativas ao movimento das forças militares portuguesas. A 28 de março de 1916 foi decretada, relativamente a todas as publicações, periódicas ou não, a obrigatoriedade de se sujeitarem à censura prévia enquanto durasse a guerra. Com o fundamento do estado de guerra, a censura permitia apreender jornais ou outros impressos, e escritos ou desenhos publicados. Desta forma, o governo pretendia eliminar a divulgação de "boato ou informação capaz de alarmar o espírito público ou de causar prejuízo ao Estado quer à sua segurança interna quer externa”, e ainda "se fizer afirmação ofensiva da dignidade ou do decoro nacional”.
"Últimas Notícias” publicadas n’O Comércio do Porto de 11-03-1915.
Com base na digitalização e transcrição dessas "Últimas Notícias”, ao longo de cinco anos (1914-1918), foram recolhidas e trabalhadas em base de dados cerca de 1350 itens.
Apesar da primeira fotografia publicada neste periódico datar de 2 de fevereiro de 1907, a verdade é que a publicação desta tipologia foi extraordinariamente residual durante os anos seguintes, não obstante o recurso sistemático a gravuras e a desenhos, nomeadamente cartográficos no que concerne à questão da ilustração da guerra. Pese embora este facto, a verdade é que o recurso às imagens fotográficas era já naquela altura uma realidade em outros jornais nacionais (O Século, O Mundo, etc.), a par de muitos outros internacionais. Numa população maioritariamente analfabeta, a falta de imagens traduzia-se, naturalmente, numa limitação na abordagem e comunicação das notícias da guerra, que o recurso frequente à utilização de mapas dos principais focos bélicos, não supria satisfatoriamente.
Assim, este projeto propõe-se ilustrar fotograficamente à posteriori essa rúbrica diária, combinando imagens hoje disponíveis no infindável repositório web, com a informação prestada, procurando ir ao encontro da realidade vivida e apresentá-la como complemento informacional. Desta forma, tentou-se ensaiar um diário "vivo”, dando ao utilizador a possibilidade de acompanhar dia-a-dia, a uma distância de um século, o clima da Primeira Guerra Mundial, no pulsar ritmado do dia-a-dia das principais notícias devidamente ilustradas.
No entanto, não pode ser descurado um facto essencial que pesa sobre o jornalismo nesta altura, não só em Portugal, como nos países envolvidos no conflito: a censura. A censura limita a informação e, em extremo, deforma a realidade por omissão de factos contundentes considerados desajustados ao conhecimento público. A primeira restrição surgiu a 30 de novembro de 1914, num decreto que proibiu a publicação de notícias relativas ao movimento das forças militares portuguesas. A 28 de março de 1916 foi decretada, relativamente a todas as publicações, periódicas ou não, a obrigatoriedade de se sujeitarem à censura prévia enquanto durasse a guerra. Com o fundamento do estado de guerra, a censura permitia apreender jornais ou outros impressos, e escritos ou desenhos publicados. Desta forma, o governo pretendia eliminar a divulgação de "boato ou informação capaz de alarmar o espírito público ou de causar prejuízo ao Estado quer à sua segurança interna quer externa”, e ainda "se fizer afirmação ofensiva da dignidade ou do decoro nacional”.
À semelhança do que aconteceu em outros países beligerantes, de ambos os lados do conflito, em Portugal, durante a guerra, a imprensa desempenha um papel ativo na formação da opinião pública. Assim, confirma a afirmação de Karl Kraus, em Novembro de 1914, de que as nações são diferentes mas a imprensa é igual por todo o lado e tem um papel maior nesta Primeira Guerra Mundial. A imprensa é significativa para a formação da opinião pública, porque, quer espontaneamente, quer por via das limitações e das imposições da censura de guerra, é parte ativa na manipulação do espírito dos portugueses, manipulando a favor ou contra a ida do exército português para os campos de batalha na Flandres. Evidentemente, o seu poder é ainda maior quando se encontra ao serviço da máquina de propaganda colocada em marcha pelo Ministério da Guerra tutelado por Norton de Matos. Em suma: apesar da imprensa portuguesa não ser tão poderosa quão a imprensa britânica, francesa, americana ou alemã, e apesar da máquina de propaganda de guerra montada por Norton de Matos não ser tão evoluída quanto à daqueles mesmos estados, e ainda apesar da ação da censura de guerra entre nós não ter sido tão apertada quanto naqueles mesmos países, a verdade é que, em Portugal, a imprensa foi uma arma poderosa, primeiro, no combate que se travou entre intervencionistas e anti-intervencionistas e, depois, na influência junto das famílias portuguesas, quer quando partiam os familiares, quer quando regressavam mutilados, quer ainda quando regressavam sem vida ou, simplesmente, não regressavam.
(Noémia Novais, A Imprensa Portuguesa e a Guerra. 1914-1918. Os jornais intervencionistas e anti-intervencionistas. A acção da censura e da propaganda. Disponível em https://run.unl.pt/handle/10362/10797)
Concomitantemente com a informação do Diário de Guerra aqui prestada, foi inserida uma cronologia rudimentar e auxiliar onde são apresentados os principais acontecimentos relacionados com a temática da Primeira Guerra Mundial, iniciada a 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro presuntivo do imperador austro-húngaro Francisco José, e de sua esposa, Sofia, Duquesa de Hohenberg, e definitivamente "encerrada” apenas no final de 1920. Encerrada?...
José Saramago, 2009
É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas.
José Saramago, 2009